Canal Oculto

domingo, 9 de agosto de 2015

MANSÃO WINCHESTER FANTASMAS LOUCURA OU UMA TERRÍVEL MALDIÇÃO?


  Não é fácil imaginar o tamanho da dor acumulada de se perder uma filha e o esposo. Mas se você tivesse uma enorme fortuna a sua disposição e todo o tempo do mundo, você poderia imaginar uma maneira de lidar ou até superar essa perda? A resposta é provavelmente sim. Mas cada um tem sua forma de lidar com a perda.
  A maneira como a senhora Sarah L. Winchester reagiu a morte de sua filha recém nascida e de seu amado marido, resultou em uma impressionante reflexão arquitetônica de sua própria psique. E fez surgir um verdadeiro monumento conhecido como Winchester Mystery House (A Casa Winchester dos Mistérios) que tem em suas raízes, da fundação ao telhado, as tragédias pessoais sofridas por essa mulher. A casa serve ainda como o legado permanente a respeito de uma das mais emblemáticas armas criadas, o legendário rifle de repetição Winchester, conhecida como “a arma que conquistou o Oeste selvagem".


  Nascida em meados de 1840, Sarah Lockwood Pardee era filha de Leonard Pardee e Sarah Burns, um fabricante de carruagens de New Haven, Connecticut. Conhecida como “A Bela de New Haven,” Sarah desfrutava de todas as vantagens que nascer em berço de ouro proporcionava. Ela estudou em bons colégios, foi educada por tutores e viajou por boa parte do mundo. Ela também falava quatro idiomas e tocava piano de forma maravilhosa. O título de "bela" também era merecido, já que Sarah era considerada a mais linda jovem herdeira de Connecticut.
  Em 1862, Sarah casou com William Wirt Winchester, filho de Oliver Fisher Winchester, Governador de Connecticut e fabricante do famoso rifle de repetição Winchester. O casal em uma época de aparências realmente se apaixonara e os dois viveram felizes por muitos anos enquanto a fortuna da família se multiplicava. Eles se mudaram para a Nova Inglaterra e eram considerados um dos mais bem sucedidas famílias na época. Entretanto, em 1866, veio o desastre quando a jovem filha do casal, Annie, morreu de uma doença infantil conhecida como rasacus. (Essa é uma doença na qual a criança é incapaz de engolir enquanto dorme e acaba se engasgando com a própria saliva).
A Sra. Winchester se deixou dominar por uma profunda depressão da qual jamais se recuperou. Alguns anos depois, seu marido sofreu uma morte prematura vítima de tuberculose o que apenas agravou seu quadro de desespero e desesperança.


  Sarah perdeu peso, empalideceu e deixou de ter a beleza pela qual ficara famosa. Ela mandou tingir todas as suas roupas de preto e se retirou dos eventos sociais dos quais gostava tanto de participar. As janelas da grande mansão onde ela vivia foram fechadas e cobertas com cortinas, o pátio foi fechado, o jardim deixou de ser cuidado e os empregados foram quase que inteiramente dispensados. Alguns diziam que sua tristeza era tamanha que ela passava os dias imersa em lamentos apenas controlados pelo láudano. Para ajudar Sarah a lidar com a perda, alguns amigos a convenceram a procurar um espiritualista e se consultar com um médium.
  De acordo com algumas fontes, o médium que visitou a Sra. Winchester explicou que a fortuna da família havia sido construída com base na ruína de milhares de pessoas e na tristeza causada pela arma letal criada e comercializada por eles. Mais do que isso, os Winchester estavam fadados a sofrer pela eternidade pelos seus erros e por ter criado um dispositivo responsável por tantas desgraças. O médium afirmou categoricamente que havia uma maldição em ação e que os membros da família nunca teriam paz, estavam fadados a morrer e sofrer pela eternidade.


  O homem foi muito convincente dizendo que era capaz de sentir os fantasmas de centenas ou milhares de pessoas andando pela mansão em uma espécie de procissão estoica. Haviam muitos índios, muitos soldados que participaram da Guerra Civil e uma quantidade incontável de vítimas baleadas. Em comum o fato de que todas aquelas assombrações carregavam em seus corpos ferimentos de balas deixados por armas Winchester. Sarah ficou impressionada pela descrição do espiritualista e pelas suas observações dos fantasmas de homens, mulheres e crianças mutilados vagando pelos corredores.
  O homem, no entanto, sinalizou com uma alternativa para aquela terrível situação. A Sra. Winchester deveria se mudar para o Oeste, abandonar o quanto antes aquela casa e satisfazer o desejo de seus ocupantes construindo para eles uma casa ainda maior. Ele foi enfático: uma casa deveria ser construída e continuar crescendo para que os fantasmas continuassem em sua procissão eterna, consequentemente deixando a família Winchester em paz. Dessa forma, sua filha e seu marido também seriam poupados do tormento dos fantasmas e da maldição que pesava sobre todos os que ganharam riqueza com a morte alheia. Quando a Sra. Winchester se despediu do médium, ela tinha algo para se apegar, uma esperança ou mais importante, algo para ocupar a sua mente tomada pelo luto.


  Não importa quais fossem as suas motivações, a Sra. Winchester mandou empacotar as suas coisas o mais rápido possível e deixou a Costa Leste para visitar uma sobrinha em Menlo Park, na California. Enquanto estava lá ela encontrou o lugar perfeito para construir a sua nova casa no Vale de Santa Clara. Em 1884, ela assinou os papéis para a compra de uma fazenda a apenas três milhas a oeste de San Jose - e nos trinta e oito anos seguintes não parou de construir e expandir o complexo que hoje é chamado de Winchester Mystery House. Por volta do final do século XIX, o Vale de Santa Clara era um lugar idílico com paisagens de tirar o fôlego. Foi nesse ambiente sereno tipicamente rural que a Sra. Winchester começou o seu excêntrico projeto de construção, que ela comandou com uma determinação que beirava a obsessão. O primeiro passo foi contratar um verdadeiro exército de construtores, capatazes, pedreiros, carpinteiros e obreiros. Todos eles trabalhavam vinte e quatro horas, sete dias por semana. Havia abono pela produtividade e ela mandou vir mais trabalhadores dos estados vizinhos para que o trabalho não parasse nem mesmo durante os feriados. Ela chegava a contratar trabalhadores que aceitavam ficar longe de suas famílias mesmo durante o Natal e Ação de Graças e montava abrigos com calefação para que os trabalhadores pudessem dormir no lugar.


  Na virada do século, a casa já contava com 80 salões distribuídos em sete andares da mansão principal. A propriedade não parava de crescer e foi aumentada com a inclusão de orquidários, jardins, árvores frutíferas, quintais e bosques.
  Os recursos financeiros da Sra. Winchester eram virtualmente inesgotáveis; com a morte de seu marido ela recebeu milhões de dólares como parte da herança e 777 ações preferenciais da Winchester Repeating Arms Company. Com a morte de sua sogra em 1897, ela recebeu mais 2,000 ações, o que representava mais de cinquenta por cento do ativo da empresa. Todos esses proventos geravam uma renda que nos valores atuais, corrigidos equivaleria a milhares de dólares ao dia.
  A combinação de sua vasta fortuna com o projeto peculiar de construção, deu origem a inúmeros rumores na pequena comunidade onde a mansão continuava crescendo sem parar. Todos eram unânimes ao afirmar que a Sra Winchester era extremamente generosa com seus empregados, pagando até três dólares por dia de trabalho, quando a média  de outros empregadores não chegava a um dólar e meio. Ela também ficou conhecida por pagar aos funcionários com moedas de ouro e prata e por conceder grandes recompensas por cada etapa vencida na obra. Haviam ainda orfanatos, creches e fundações beneficentes que ela apoiava, funcionando dentro dos limites da propriedade.


  Mas se por um lado ela tinha a fama de ser extremamente generosa, haviam condições que deviam ser respeitadas por todos os contratados. Aqueles que aceitavam trabalhar na mansão deviam ser discretos a respeito da construção. Uma das primeiras providências da Sra. Winchester, logo que iniciou o projeto foi criar uma cerca viva de ciprestes que rodeava toda a propriedade, garantindo que ela ficaria isolada do olhar de curiosos. Apesar de ser muito justa, os advogados da Sra. Winchester se ocupavam de expulsar ou processar empregados que revelavam detalhes da construção. Houve até mesmo suspeitas - jamais corroboradas - de ameaças contra trabalhadores que "deram com a língua nos dentes".
  Outra coisa que aumentava os boatos a respeito da estranha patroa era a sua aparência. Após a trágica morte de seu marido, Sarah Winchester passou a usar apenas roupas pretas que a ocultavam da cabeça aos pés. No rosto ela usava um véu negro que impedia que qualquer um visse as suas feições. Houve estórias de que ela despediu empregados que viram a sua face acidentalmente e outros rumores ainda mais estranhos afirmando que a medida que a casa crescia sua aparência se esvaía até ela se transformar em um monstro de aparência cadavérica.


  É claro, em uma construção desse porte, cercada de estórias, não poderiam faltar acontecimentos desafiando uma explicação razoável.
  Vizinhos relatavam que um sino podia ser ouvido sempre às duas horas da manhã, que segundo muitos especialistas em assombrações é a hora da partida dos espíritos. Alguns diziam que a Sra.      Winchester jamais dormia em um mesmo quarto duas noites seguidas, a fim de dessa forma confundir os fantasmas que poderiam aguardar por ela para lhe fazer mal. No centro da mansão, existia um aposento chamado O Salão Azul (The Blue Room), para onde a Sra. Winchester ia toda noite a fim de supostamente se comunicar com os espíritos. Dizem que ela mandou construir no centro do aposento um enorme espelho de cristal que tinha a propriedade sobrenatural de permitir que manifestações espectrais pudessem ser vistas em seu reflexo. O espelho teria sido encantado por uma cigana, que por sua vez, ao ver o reflexo dos fantasmas, cometeu suicídio saltando de um dos quatros no sexto andar. Verdade ou mentira, o Salão Azul realmente possuía uma grande mesa onde sessões espiritualistas eram realizadas com convidados especiais. Diz a lenda que os convidados, entre os quais o Grande Houdini estiveram nessas séances e que mesmo o grande mágico ficou impressionado com o resultado de uma experiência.


  Ainda de acordo com a lenda, as séances realizadas na casa tencionavam guiar os fantasmas através de um determinado trajeto formando uma configuração. Essa configuração formada pelos caminhos inusitados dos corredores deveria de alguma forma anular as energias desses espectros e fazê-los abandonar esse plano material. O fato dos corredores mudarem de posição, através da inclusão de passagens secretas frequentemente reforçavam essa teoria. Curiosamente a mansão não possuía plantas baixas (blue prints) sendo todo o trabalho realizado a partir de desenhos simples concebidos pela dona da casa, alguns feitos durante as sessões conduzidas no Blue Room.
  No final de sua vida, a Sra. Winchester sofreu de artrite e afirmava que aquela dor era resultado dos ataques dos fantasmas que estavam ganhando espaço contra seu projeto. Após cada crise, ela insistia que os trabalhos deveriam continuar com força total. Ela morreu durante o sono em 5 de setembro de 1922 e foi enterrada em um cemitério em New Haven, Connecticut ao lado de seu amado marido. Sua única família era uma irmã, alguns sobrinhos e sobrinhas, que receberam uma quantia substancial de seus fundos. Ela também deixou uma herança para seus funcionários favoritos e empregados que se dedicaram ao máximo pelo projeto.


  Quando Sarah Winchester morreu, a propriedade já ocupava uma área que totalizava seis acres. A imensa mansão possuía 160 quartos, 2 mil portas, 10 mil janelas, 47 escadarias, 47 enormes lareiras, 23 banheiros e 7 cozinhas. Cada um desses aposentos recebia móveis, pintura e detalhes que os tornavam únicos. Haviam armários com trabalhos exclusivos de marchetaria, pisos de tacos em mogno, carvalho, freixo e outras madeiras nobres, grandes tapetes persas, animais exóticos empalhados, pilastras erguidas com mármore italiano de Carrara, castiçais e candelabros de cristal da boêmia, peças de aço, bronze e prata alemãs, banheiras moldadas na suíça, janelas de cristal pintado e incontáveis outros detalhes que concediam ao palácio uma aparência de opulência e estranheza digna dos contos góticos. O magnífico Salão de Baile, por si só era do tamanho de quatro quadras de tênis e com um luxo visto apenas em grandes salões da realeza européia.
  Vista do exterior, a obra era ainda mais impressionante. A casa possuía estilos que se sobrepunham desde o gótico vitoriano, passando pelo art decó e outros estilos que pareciam competir por espaço.      Domos, cúpulas, cornijas e torreões surgiam lado a lado com balcões e arcos em ângulos estranhos e incomuns.


  Após a morte da Sra. Winchester alguns detalhes a respeito da obra foram divulgados pelos empregados. Os quartos eram frequentemente desmanchados e refeitos, como se dessa forma a Sra. Winchester pudesse enganar os fantasmas e dificultar para eles ter um conhecimento da planta da casa. Corredores também eram construídos e desapareciam em alguma reforma posterior. Dessa maneira, os trabalhadores supõem que cada quarto foi refeito pelo menos meia dúzia de vezes, o que totalizaria mais de 600 quartos construídos e desmanchados ao longo de 38 anos. A Mansão Winchester é um extravagante labirinto victoriano - maravilhoso, estupendo e incrivelmente excêntrico, para dizer o mínimo. Pessoas que entraram nela pela primeira vez não raramente acabam se perdendo ou precisam ser resgatados por algum guia que conhece o lugar. Há estranhas escadas que de um lado possuem sete degraus e do outro onze, e uma longa escadaria com 42 degraus enquanto outra, com as mesmas dimensões possui apenas 35.
  É fato que a casa possui inúmeras passagens secretas e corredores ocultos que intrigam os especialistas. Alguns ainda estão sendo descobertos e outros tantos permanecem desconhecidos mesmo nos dias atuais. As milhas de corredores em curva, entradas e passagens parecem ter sido construídas com o propósito de confundir os espíritos e fazer com que eles não encontrassem seu caminho dentro da casa.
  Há boatos de que a casa esconderia uma sala secreta praticamente inacessível a não ser que se conhecesse todas as passagens ocultas. Supostamente a Sra. Winchester teria ordenado que seu marido e filha fossem exumados e transportados para esse aposento onde seus restos poderiam ficar em segurança dos fantasmas vingativos. Mas se isso é verdade, ela não teria sido enterrada em New Haven ficando longe deles. A não ser que tudo não tenha passado de um truque.


  A maior parte dos móveis da casa permaneceu no lugar até 1930 quando parte deles foi vendida em leilões por uma das sobrinhas da Sra. Winchester. Os rumores atestam que mais de seis caminhões foram usados para retirar os móveis ao longo de seis semanas de trabalho, apenas para encaixotar os móveis e objetos.
  A mansão e a fazenda não foram mencionados em lugar algum do testamento. Eles se tornaram parte do espólio e acabaram sendo vendidos para a Union Trust Company de San Francisco. Aparentemente, nenhum dos herdeiros da Sra. Winchester tinha interesse de continuar a expansão da mansão, embora tenham havido rumores de que um testamento secreto instituía que essa era uma das condições para os herdeiros receberem sua parte na fortuna.
  Hoje, a Winchester Mansion está aberta a visitação pública e milhares curiosos em conhecer sua história a exploram anualmente. Há cerca de dois anos, um grupo conseguiu a permissão para realizar uma sessão espírita no Salão Azul. Na ocasião, uma famosa médium teria recebido uma mensagem astral que resultou na descoberta de uma passagem secreta.

Ela também teria visto a procissão de fantasmas mencionada anteriormente.

O movimento dos mortos parece não ter parado desde então.


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